Dia: 25 de agosto, 2015

O maluco ambulante, ou melhor, a metamorfose beleza


4bd5bec4eddbc Vs metamorpho2

Como de costume toda manhã abro a página do Youtube para acompanhar alguns canais e ouvir algumas músicas. Sem querer acabei escutando uma do baiano e considerado o pai do Rock nacional, ou ainda, o “maluco beleza”, Raul Santos Seixas. A música ouvida foi “metamorfose ambulante”, uma das faixas de seu primeiro álbum intitulado “Krig-ha, Bandolo!”, gravado e lançado pela Philips em 21 de julho de 1973. Esse título do primeiro álbum faz referência a uma fala do Tarzan que significa “cuidado, aí vem o inimigo! O objetivo destas poucas palavras não é fazer análise da canção, porque sabe-se que “todo estudo exclusivamente analítico corre o risco de ofendê-la, pois melodia, ritmo, harmonia e letra formam um conjunto indivisível, e toda a análise, por definição, é um processo de de-composição”[1].

Como o objetivo não é analisar o arranjo, mas realizar um comparativo entre a letra “metamorfose ambulante” e o personagem metamorfo da editora norte-americana DC Comics. Esta editora é uma das maiores companhias ligadas à produção de histórias em quadrinhos. Nos primórdios, a mesma era conhecida como National Comics, mas com o passar do tempo adveio se chamar Detetive Comis que sucessivamente acertou em adotar a sigla DC que tem como rival histórica a Marvel. Dito isto, avança-se para um dos personagens principais destas linhas, Metamorfo. Ele tem capacidade surpreendente, pode tornar seu corpo em qualquer elemento químico.

Prosseguiremos contando um pouquinho sua história. O seu nome anterior era Rex Mason, trabalhava como arqueólogo para as indústrias de Simon Stagg. Este é um executivo de negócios e o CEO sem escrúpulos da Stagg Enterprises, uma corporação multinacional multimilionária. Tem uma filha, Sapphire Stagg, a mesma é a esposa de Mason. Max em uma de suas escavações arqueológicas, descobriu um artefato, Orbe de Rá, soterrado em uma pirâmide. Este objeto estava envolvido por uma radiação química, devido a exposição à esta, foi transformado no Metamorfo, um ser capaz de assumir a forma de qualquer elemento químico, mantendo a homogeneidade do corpo.

A capacidade de ter essas habilidades possibilita que Rex transforme seu corpo em objetos, mudando-o em qualquer componente desejado, no entanto, não pode voltar a sua forma orgânica natural, o que o deixa com uma aparência não tão atraente. Tendo presente tanto o personagem da DC Comics como a música do Seixas, se percebe como a “arte é perturbadora, permanentemente revolucionária, e isso porque o artista, na proporção de sua grandeza, enfrenta sempre o desconhecido, e aquilo que ele traz de volta dessa confrontação é uma novidade, um símbolo novo, uma nova visão da vida, a imagem externa de coisas interiores”[2]. Com letras irreverentes, o “maluco beleza” perturbava a ordem estabelecida.

O início da música já chama a atenção pela forma como é apresentada “prefiro ser essa metamorfose ambulante”, esse trecho nos convida a viajar pela narração musical e associar ao personagem da DC que após ser atingido pela radiação do artefato inicia seu itinerário. Não fica mais preso à sua forma original mesmo que seu desejo seja voltar a ter sua humanidade, ou melhor, não tem mais a velha opinião formada sobre tudo. Com essa nova forma não fica preso as falácias anteriores, mas aumenta sua reflexão repensando criticamente as ideias de outrora. Evidente que essas transformações numerosas confundem sua identidade, a qual reflete na ambivalência.

Metamorfose Ambulante

Essas mudanças de mentalidades e posturas acontecem, pois, “o homem é um ser finito, temporal e histórico”[3]. Passa a ter consciência de sua presença no mundo. E é justamente esta consciência que favorece a metamorfose de nossos pensamentos e posições. Deve-se ter presente que “o ponto de partida do conhecimento da realidade são as relações que os homens mantêm com a natureza e com os outros homens; não são ideias que vão provocar as transformações, mas as condições materiais e as relações entre os homens”[4]. Pobre seríamos sem nossas metamorfoses diárias e evoluções constantes.

Referências:

[1] CALVANI, Carlos Eduardo B. Teologia e MPB. São Paulo: Loyola, 1998, p. 14.

[2] READ apud CALVANI, 1998, p. 108.

[3] BORGES, Vavy Pacheco. O que é história. São Paulo: Brasiliense, 2003, p. 55.

[4] BORGES, 2003, p. 37.